Para amanhecer - Iberê Lopes 05/12/2012

"Nada poderá nos salvar agora
Antes de amanhecer tudo parece distante
Abro os olhos e caminho sobre as fotos
Sobre um passado que não quero mais viver
É fácil realizar milagres quando não temos mágoas
É simples dizer que está tudo bem
Mas não vai adiantar me esconder
Pois as escolhas que fizemos são exatas
Diretas como flechas atingindo a maçã
É esse pecado que ninguém vai contar
O braço que nenhum de nós vai torcer
Porque as pessoas que dissemos amar
São refúgios, esconderijos do tempo
Hoje eu vou gritar até a noite alcançar o dia
Até todas as máscaras caírem da parede
Não entendo essa neblina cobrindo o sol
Por que pintamos tudo de cinza antes de dizer adeus?
Por que dissemos tantas bobagens?
Preenchemos nossos egos com agulhas em aço e sal
Mergulhamos em tempestades rasas até afogar o amor
Cegamos diante do que não havia solução
Tentamos nos moldar e acabamos por construir muros
Altos demais para nos olharmos nos olhos
Ninguém vai nos contar como foi que aconteceu
Ninguém vai saber das flores que plantamos antes de escurecer
Fica complicado pra quem não esteve perto
Acreditar que mesmo em dias de chuva
Deitávamos no chão para acordar os sonhos
Agora me diga o que restou além de algumas lembranças
Os móveis da sala cheios de poeira e solidão
Antes parecia tarde e agora é muito cedo para acreditar
Deixe suas mentiras em cima dos meus discos
Quando terminar te darei um livro
Repleto de cores que nunca apresentei
Talvez minhas palavras façam mais sentido
Minhas canções invadam teus ouvidos
E o que sinto seja levado ao patamar que merece
Apaguei as luzes do que sou durante sete outonos
Agora é tempo de derrubar alguns muros e seguir
Ainda assim eu penso se seria capaz de entender
Que meus pensamentos nunca foram exatos
Que o meu mundo jamais foi quadrado
E que damos voltas demais em nós mesmos
Antes de olhar quem somos
E com quem moramos nessa esfera azul
Não repita os mesmos erros
Nem queira que vejam nas tuas costas nascendo asas angelicais
É engraçado não pedir nada em troca
Apenas um julgamento justo antes de partir
Não quero provar nada
Nem mais uma gota desse amargo
Me perdoe se me dei o direito
De ser quem sou em alguns momentos
Me diga a verdade
Se minhas duas faces seriam dois disfarces
Ou qual de mim não amou o bastante até aqui
Mas não responda pra mim
Fale em voz alta em frente ao espelho
Quantas vezes estava ao seu lado
E quantas outras estava fora do ar
Por enquanto eram essas lágrimas que gostaria de secar ao sol
Poesias são sempre formas lúdicas e melancólicas
De encantar versões da vida que vivemos e o que queremos além"


Iberê Lopes Unidade na Diversidade iberealsur.versos@blogger.com

Um comentário:

  1. Profunda e transparente demais da conta.
    Quem nasce com o dom de dar vida e sentido às palavras e frases expõem a alma nas entrelinhas.
    Segue, poeta. Não desista de teus sonhos.
    Só quem tem a divina benção do desprendimento e do desapego do concreto (material), que nada é no Mundo Real, já que neste aqui, onde estamos de passagem, estão apenas as sombras das luzes, para onde retornaremos, sabe transformar em palavras as dores e as lágrimas dos sofrimentos.

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