É hora de voltar (dar à luz ou expelir do útero cerebral) - Iberê Lopes 06/12/2012




"Joguem os controles pela janela
Desabem suas consciências e recomecem
Ninguém se importa mais com a sua opinião
Lave a alma dançando no meio da tempestade
Grite o quanto puder
Fica expressamente proibido sofrer por amor
Não projetam castelos
Escrevam mais livros contando histórias do futuro
Amasse o sofrimento
Pinte da cor que quiser o seu cabelo
Quem se comove com suas mãos estendidas
Com a lágrima dos meninos no semáforo
Ou das meninas vendendo o corpo no esgoto da noite
Largue essas pedras
Aponte o dedo pra si mesmo se for capaz
Conecte uma mudança em outra aliança de verdade
Recomece agora mesmo
Pare de socar as facas
Lance uma à uma no alvo
Contra o tempo descanse até ouvir o alerta das fábricas
Respire a fumaça enquanto procura outro lar no espaço
Liberte sua mente das correntes desse I mundo
Todo ciberinventado para te moldar e padronizar
Diga que está realizado com seu emprego
Essa gravata apertada e seu relógio de brilhantes
Vale mais que um abraço
Salte em queda livre para longe dos shopping centers
Esconda seu coração do totalitarismo
E da naturalidade de matar seus inimigos e desafetos
Faça nascer agora outra humanidade
Diga que somos capazes de virar mesas de ouro
Alimente essa cidade com compaixão
Pulse a racionalidade de perdoar
Ame o próximo incondicionalmente
Não cabe mais entre nós meias palavras
Olhares distantes como se fossemos infinitamente bons
Deixe esse disfarce no armário
Vista a própria imagem
Não se deixe levar
Acorde enquanto a noite não chega
Sopre pra longe do seu caminho essas nuvens
Beba toda a água que puder e limpe seus pecados
Afaste o câncer da maldade e do rancor
Surpreenda os que carregam armas
Sorria antes de cair e ofereça flores
Bem devagar, suave e leve
É hora de mudar
Não existem culpados ou salvos
Somos nós mesmos responsáveis por tudo que acontece aqui
É hora de tocar
Ver o outro como um espírito em evolução
A morte não será eterna, nem a vida passageira
É hora de voltar"

Iberê Lopes Unidade na Diversidade iberealsur.versos@blogger.com

Para amanhecer - Iberê Lopes 05/12/2012

"Nada poderá nos salvar agora
Antes de amanhecer tudo parece distante
Abro os olhos e caminho sobre as fotos
Sobre um passado que não quero mais viver
É fácil realizar milagres quando não temos mágoas
É simples dizer que está tudo bem
Mas não vai adiantar me esconder
Pois as escolhas que fizemos são exatas
Diretas como flechas atingindo a maçã
É esse pecado que ninguém vai contar
O braço que nenhum de nós vai torcer
Porque as pessoas que dissemos amar
São refúgios, esconderijos do tempo
Hoje eu vou gritar até a noite alcançar o dia
Até todas as máscaras caírem da parede
Não entendo essa neblina cobrindo o sol
Por que pintamos tudo de cinza antes de dizer adeus?
Por que dissemos tantas bobagens?
Preenchemos nossos egos com agulhas em aço e sal
Mergulhamos em tempestades rasas até afogar o amor
Cegamos diante do que não havia solução
Tentamos nos moldar e acabamos por construir muros
Altos demais para nos olharmos nos olhos
Ninguém vai nos contar como foi que aconteceu
Ninguém vai saber das flores que plantamos antes de escurecer
Fica complicado pra quem não esteve perto
Acreditar que mesmo em dias de chuva
Deitávamos no chão para acordar os sonhos
Agora me diga o que restou além de algumas lembranças
Os móveis da sala cheios de poeira e solidão
Antes parecia tarde e agora é muito cedo para acreditar
Deixe suas mentiras em cima dos meus discos
Quando terminar te darei um livro
Repleto de cores que nunca apresentei
Talvez minhas palavras façam mais sentido
Minhas canções invadam teus ouvidos
E o que sinto seja levado ao patamar que merece
Apaguei as luzes do que sou durante sete outonos
Agora é tempo de derrubar alguns muros e seguir
Ainda assim eu penso se seria capaz de entender
Que meus pensamentos nunca foram exatos
Que o meu mundo jamais foi quadrado
E que damos voltas demais em nós mesmos
Antes de olhar quem somos
E com quem moramos nessa esfera azul
Não repita os mesmos erros
Nem queira que vejam nas tuas costas nascendo asas angelicais
É engraçado não pedir nada em troca
Apenas um julgamento justo antes de partir
Não quero provar nada
Nem mais uma gota desse amargo
Me perdoe se me dei o direito
De ser quem sou em alguns momentos
Me diga a verdade
Se minhas duas faces seriam dois disfarces
Ou qual de mim não amou o bastante até aqui
Mas não responda pra mim
Fale em voz alta em frente ao espelho
Quantas vezes estava ao seu lado
E quantas outras estava fora do ar
Por enquanto eram essas lágrimas que gostaria de secar ao sol
Poesias são sempre formas lúdicas e melancólicas
De encantar versões da vida que vivemos e o que queremos além"


Iberê Lopes Unidade na Diversidade iberealsur.versos@blogger.com