Essas Ruas Desconhecidas - Iberê Lopes

Essas Ruas Desconhecidas - Iberê Lopes

Lembrei de um tempo em que sentia nas minhas mãos
Cada partícula brilhante e viva das ruas da cidade
As casas coloridas em contraste com as cores poéticas
No outono ouvia os passos livres dos amigos chegando
E partindo sem dizer adeus
Não sem antes deixar suas marcas
O meu peito querendo as luzes vibrantes do universo
Colorindo as paredes do quarto com a ponta dos dedos
Palavras simétricas formando versos perto da janela
Percebíamos mais amor nesse mundo e nos abraços
As distancias eram sentidas com a delicadeza necessária
Pequenos gestos bastavam para acalmar a alma invadida
Pela ansiedade de encontrar saída para paixões perdidas
A razão parecia simplesmente andar lado a lado
Regar com vinho as noites de insônia e melancolia
Tudo era perdoado, pois nada poderia ser proibido sentir
As verdades ditas cara a cara
Ao pôr-do-sol do Cais
Não entenda tudo isso que digo como quem quer voltar
É apenas uma saudade da sinceridade que havia
De acordar e não ter que escolher a máscara certa
Ou qualquer perfumaria que apresentasse quem não sou
Esse palco montado para fazermos de conta que crescemos
Com certeza estamos na melhor parte da viagem
Aquele momento em que preservamos os impulsos
Com uma dose forte e amarga de realidade mantendo
Nossos pés firmes no chão
E os pensamentos fluídos demais
Em cada imagem nova que surgir nesse horizonte aberto
Vou saltar até as nuvens dessa memória para não ser esquecida
Sobre essas folhas prateadas doutra estação
Carregando comigo cada lance, degrau e emoção apreendida
Todos os olhares, mãos e poesias dos que me fizeram
Exatamente sem certezas, culturalmente engajado
Humanamente poeta, sabiamente complexo, normalmente mutante
Feito de uma coleção de saudades
E completo com todo o desconhecido que virá

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