O Trem da Vida

Ouço o som dos trilhos, matando a saudade e confessando o caminho que ainda há pra seguir. Mesmo que eu queira viver mil anos sonhando, jamais vou conseguir pintar o mundo inteiro do jeito que eu quero. E eu quero de verdade um outro sentido mais sincero, deixar meus passos marcados na areia. Permitir que as ondas apaguem meu nome do universo. Pra poder reescrever em outras paisagens, novas luminosidades nascendo entre as nuvens do ontem. Observo sumir no espelho um menino sorrindo, apontando o presente que é de onde nasce o horizonte. Noutra estação vou colorir as ruas de uma história madura. Lembro sempre de todos, impossível negar o quanto amigos e amores fizeram de mim o que sou. Minha alma espera ansiosa, a chegada do alvorecer. Ver crescer no peito, por entre os espinhos da vida, flores cheias de um perfume de manhã. Passo por matizes, planícies e rebentações pra me encontrar nos meus próprios olhos. Agora me falta um sentimento, uma paixão que absorva sem ilusões ou expectativas minha mania de poetizar a estrada e viver sem medo. Vou por esses desconhecidos destinos, aprendendo a perder meus vícios de querer além. E quem não tem um coração poderá dizer que passa assim em preto e branco, sem delírios. Quero acordar na madrugada, tomar um bom vinho, despertar acendendo incensos pela casa pensando que isso vai me fazer evoluir. E quem não quer um canto assim, mesmo que sejam miragens, não entende o que é aprender o amor. Acordes dissonantes de um caos necessário pra morrer desejos impuros e se reinventar. Sempre que penso estar perdido afirmo que estou mesmo e quem acha que encontrou todas as respostas está mais. Por isso ouço o som dos trilhos, matando a saudade e confessando o caminho que ainda há pra seguir. Iberê Lopes

Iberê Lopes Unidade na Diversidade iberealsur.versos@blogger.com

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