Alguém me disse que ando ensimesmado. Sempre gostei dessa palavra e não sei bem ao certo o motivo, mas ela me remete a Sartre, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Paulo Leminski. Autores bastante ensimesmados e que expressaram esse jeito de ser em suas obras. Segundo o Houaiss – o dicionário –, ensimesmado é estar voltado para dentro de si mesmo; concentrado, recolhido.
Admito: estou mesmo ensimesmado e estou gostando. Estar ensimesmado é dar ouvido a si próprio. Estar ensimesmado é não ligar para o que pensam a seu respeito. Estar ensimesmado é não ter obrigações e só fazer aquilo que se tem vontade. Estar ensimesmado é admirar o vai e vem dos carros e das pessoas na avenida agitada e manter seu próprio ritmo.
Estar ensimesmado é não ser feliz, nem triste. É apenas ser você como há muito tempo não acontecia e deixar o mundo girar. Em algum momento da vida acabamos nos ensimesmando. Mas o que leva alguém a se ensimesmar? Os motivos são muitos. A ausência de sol, o frio, a mesmice, o tédio...Sei lá.
Acertou em cheio quem previu que o tédio seria o mau século. O tédio dissemina uma preguiça mental e cria uma unanimidade burra que gosta e desgosta das coisas sem ao menos saber por quais motivos. Está cada vez mais difícil vida inteligente nos meios sociais e isso faz com que alguns grupos, o dos mais exigentes, fiquem ensimesmados.
A mesmice também pode levar ao ensimesmamento pessoas que constantemente buscam por novidades e fogem de tudo que seja sempre igual. Na vida cotidiana o que mais encontramos pela frente são pessoas na mesma, que sustentam opiniões que nem acreditam e que não largam a bandeira do politicamente e socialmente corretos. O convívio com gente que não tem nada a dizer, contribui substancialmente para qualquer indivíduo de bom senso ensimesmar-se assim como eu.
Rildo Barros
Iberê Lopes Unidade na Diversidade iberealsur.versos@blogger.com
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